A metamorfose de Miró, resenha de Thiago Corrêa | Mariposa Cartonera
Mariposa Cartonera é um selo editorial que trabalha de forma sustentável com livros artesanais feitos com capas de papelão coletado nas ruas. As capas são pintadas e costuradas manualmente pelos integrantes do coletivo ou em oficinas realizadas em comunidades da periferia do Recife.
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A metamorfose de Miró, resenha de Thiago Corrêa

A metamorfose de Miró, resenha de Thiago Corrêa

Resenha de Thiago Corrêa sobre o livro aDeus, do poeta Miró da Muribeca, publicada em outubro de 2015 no site Vacatussa.

Em junho de 2015, os jornais do Recife noticiaram que o poeta Miró estava internado no Hospital Oswaldo Cruz. Pelo que foi divulgado na época, a internação era o resultado de uma vida alimentada por álcool e solidão. No início de agosto, Miró voltava ao noticiário, desta vez por conta do lançamento do seu 12º título inédito, o primeiro a ser publicado após a coletânea Miró até agora (2013), que reuniu todas as plaquetes anteriores do poeta. Com o livro aDeus, o poeta da Muribeca se despedia – não da vida, como sugeria o desenlace da trama– mas do passado destrutivo que o levou à internação.

O adeus, na verdade, significava renascimento. Que, ao menos na literatura, realiza-se na forma de uma poesia pujante, apresentada na edição caprichosa da Mariposa Cartonera. É bom deixar claro: não estou nem me referindo ao projeto cartonero, de edições artesanais e capas personalizadas. Mas, sobretudo, ao trabalho de edição com o texto, zelo com a revisão e a criteriosa seleção promovida por Wellington de Melo, ao selecionar os 32 poemas inéditos – entre cerca de 150 já escritos por Miró – que compõem aDeus.

Um cuidado ainda mais perceptível por se tratar de um poeta imediatista como Miró, que já chegou a reconhecer seus livros como souvenirs das performances. O tratamento editorial digno recebido por aDeus eleva a obra de Miró a novo patamar. Pela primeira vez, o poeta da Muribeca publica um livro que se resolve pelo texto e não nos deixa sentir falta de suas performances arrebatadoras. Desta vez, os versos falam por si. Resultado tanto da maturidade alcançada pelo autor, como do trabalho de edição, que tem o mérito de pensar o livro com a visão de conjunto e não como depósito sortido de poemas.

Ao filtrar as impurezas e organizá-los no volume, o título ganha um eixo, concentrando o foco nos versos que talvez possam traduzir o momento de transição vivido pelo poeta. Assim, não só os versos, mas os poemas e as páginas se comunicam entre si, criando uma sequência narrativa, uma unidade temática que confere potência ao discurso e reafirma o valor da obra (mesmo quando a sua qualidade oscila, como nos casos do desconexo poema da página 28 e do didático Manifesto alegrista).

Em aDeus, Miró passa a pensar mais em termos ontológicos, transita por reflexões metafísicas sobre deus, morte e solidão, num combinado que resvala em questionamentos sobre a sua própria existência. Os pormenores do cotidiano não servem mais como pretextos para a contação de causos, eles agora revelam a grandeza de um poeta em sua rotina, impotente diante do mundo, mas ao mesmo tempo ciente do poder das palavras e do seu compromisso em discutir questões universais.

O que, naturalmente, repercute no tom mais equilibrado do livro. Ainda que o humor esteja presente, aDeus é mais sério do que o habitual na obra de Miró. Aqui, o humor não aparece no intuito de fazer graça à plateia, como um chiste (a exceção é o poema sem título da página 21). Ele se apresenta mais irônico, mais ácido, para provocar a crítica, a reflexão, como no poema Paradoxo.

(continua)

Leia a resenha completa clicando aqui.

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